Boas-vindas a Escreversos & Literaneios!
Em julho do ano passado, de forma súbita, a minha gata Meian partiu.
A sua ausência foi — e ainda — é muito dolorosa.
Como a dualidade de seu nome [明暗 めいあん], escolhido por sua pelagem mesclada de branco e de cinza, toda a luz que ela trouxe para a minha vida foi perdendo espaço para a sombra. Hoje, ambas convivem em minhas memórias e em meu coração. Mas, pouco depois de sua partida, apenas a sombra se fazia presente.
Assim, em agosto, comecei o esboço do que agora constitui esta tirinha.
É a primeira tirinha (quadrinho) que torno pública — embora não seja a primeira que desenhei.
Minha arte ainda é incipiente e inconsistente, em especial no ambiente digital — o que provavelmente me levará a refazê-la no futuro. Meu aprendizado sobre quadrinhos, por sua vez, ainda é introdutório e teórico, e há uma lacuna entre teoria e prática que aos poucos preciso preencher.
Todavia, nem a arte incipiente e inconsistente, nem o aprendizado introdutório e teórico, são impeditivos para fazer quadrinhos — um dos motivos pelos quais sempre me encontrei deslumbrado com a nona arte.
Quando criança, com 6 ou 7 anos de idade, eu já gostava de ilustrar as histórias que escrevia. Mas a minha relação com os quadrinhos, propriamente dita, começou com A Turma da Mônica na infância, depois com A Turma da Mônica Jovem e mangás na adolescência e, então, quadrinhos em geral na fase adulta.
Os quadrinhos que desenhava abrangiam tudo: tirinhas do meu dia a dia, minha família e minhes amigues; fanzines de séries de que gostava; e quadrinhos de histórias autorais.
Em algum momento na adolescência, no entanto, simplesmente parei de fazer quadrinhos, embora ainda desenhasse de forma esporádica — um hábito que sempre mantive, em ritmo irregular.
Nos últimos anos, em especial na pandemia, voltei a desenhar com maior regularidade — uma média de um desenho por mês, nos melhores momentos — e a experimentar com novos instrumentos, como a aquarela e o desenho digital, abandonando o tão costumeiro grafite e adotando o lápis de cor como principal material.
Os dois últimos anos, mais precisamente, foram o auge dos meus estudos sobre quadrinhos, embora sem muita prática atrelada a eles.
Além de documentários, como o HQuem – A arte de desenhar histórias (2021), no qual pude conhecer uma série de quadrinistas brasileires, também li livros relacionados à nona arte, como o clássico Desvendando a arte dos quadrinhos (1995, trad. Helcio de Carvalho e Marisa do Nascimento Paro), de Scott McCloud, o didático e divertido Como fazer mangá? (2022) de Raoni Marqs, e o guia Webtoons (2021) de Alexandra Presser, nos quais pude me debruçar mais a fundo nas características gerais, estruturais e individuais dos diferentes tipos de quadrinhos (hipergênero), como charges, cartuns, quadrinhos propriamente ditos — incluindo mangás —, webcomics e webtoons.
A análise de quadrinhos tornou-se um hábito, em especial dos recursos que quadrinistas usam para desenvolver o layout e construir o ritmo de suas histórias. A criação de quadrinhos, por sua vez, foi — e vem — incorporando ao meu projeto como quadrinista a pessoalidade e a poeticidade na/da nona arte. Assim, desde 2023, minhas criações têm sido (mais) pessoais e poéticas.
Esta tirinha é uma tentativa de criação dessa pessoalidade e poeticidade e, também, um esforço de homenagear uma das criaturas que mais amei — cuja luz era do tamanho do mundo e cuja saudade carregarei no peito para sempre.
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