A angústia temporal

Boas-vindas a Escreversos & Literaneios!

Como ume amante impiedose, o tempo estilhaça o coração de escritories, parte e nunca olha para trás.
Adotar a escrita, seja como hobby ou como profissão, é se deparar, ao longo da jornada, com inúmeros obstáculos. Esses obstáculos podem surgir de diversas formas. Como comentários negativos que — ao contrário de críticas construtivas — buscam desmerecer nosso trabalho. Como inseguranças que questionam nossa capacidade e nos impedem de expor nossa escrita para o mundo. Ou mesmo como o tempo — ou a falta dele.

Essa última forma, não menos perigosa, dolorosa e angustiante que as anteriores, acaba sendo uma grande preocupação de quem escreve. Ela nos induz a acreditar no “delírio capitalista” — que vê tempo e dinheiro como a mesma “entidade” —, nos induz a acreditar que devemos ser produtivos o tempo todo, de que devemos dar conta de tudo, de que não devemos perder tempo fazendo coisas ditas como “secundárias” — posição à qual o ato de escrever continua a ser relegado pela nossa sociedade, assim como a profissão de escritorie.

O que é perder tempo, afinal de contas? Não perdemos tempo quando fazemos o que amamos. Perdemos tempo quando olhamos para o passado e nos arrependemos das coisas que poderíamos ter feito. Não podemos controlar o passado-presente-futuro, mas podemos controlar o que fazemos com o tempo que nos é dado — como nos ensina Gandalf, o Cinzento.

Todavia, é preciso que o façamos com sabedoria. Nada deve ser levado ao extremo. Não é porque queremos escrever e queremos usar o tempo que nos é dado para tal que devemos sentar e escrever por horas a fio — sem descansar, usar o banheiro ou tomar um copo de água — até que nossa obra esteja pronta, do começo ao fim.

Em alguns cursos que fiz recentemente, ouvi comentários como: “quem quer escrever, acorda cinco horas da manhã ou vai dormir três horas da madrugada se for preciso”. Mas um livro, um conto ou uma simples redação não surgem do nada. São fruto de um trabalho árduo que exige paciência, criatividade e dedicação. É impossível escrever um texto e revisá-lo logo depois sem deixar diversas incoerências e inadequações para trás. É preciso dar tempo ao tempo. 
A escrita é uma arte. E toda arte apressada acaba ficando um pouco distorcida.
Como uma pessoa que sofre de ansiedade, sei bem como é difícil aceitar que não somos capazes de fazer tudo no aqui-e-agora. Chega a ser frustrante não ter esse poder. O poder de controlar o tempo. Mas, com o próprio tempo — por mais irônico que seja —, aprendemos que o tempo que temos já é o bastante. Não importa o quanto — quanto tempo vai gastar — nem o quando — quando vai ficar pronto. O que importa é o aqui-e-agora. É curtir a jornada.
 
O processo da escrita acaba sendo mais divertido e mais prazeroso do que o produto que resulta dele. Não deixe de dormir, de cuidar da sua saúde — física e mental — para escrever. Escreva no seu tempo. Quando der e onde der. Não se encaixe na rotina da escrita, encaixe a escrita na sua rotina — mesmo que você tenha a escrita como profissão. Seja uma palavra, uma frase, um parágrafo, uma página... Não importa a quantidade. Só faça o que você gosta e se sinta bem ao fazer isso.

Então, se você quer escrever, se você sente que precisa escrever, escreva. E, sabiamente, faça cada segundo valer a pena.

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