A magicalização da escrita

Boas-vindas a Escreversos & Literaneios!

Você sabe o que é a magicalização da escrita?

Quase sempre, quando entro no Instagram, me deparo com bookgrammers, também conhecides como influencers literáries, gravando stories e compartilhando postagens sobre suas leituras — o que penso ser maravilhoso, como o apaixonado por literatura que sou — e vira e mexe recebo recomendações de obras incríveis. Quase sempre também, ao visitar o perfil de bookgrammers, observo em suas biografias a contagem de livros lidos no ano, que chegam a variar de dezenas a centenas de leituras — eu amo ler, mas nunca cheguei nem perto de ler uma centena de livros em um único ano! Fico admirado com as pessoas que alcançam esse feito.


Após estudar o livro de Paulo Freire, A importância do ato de ler (2006[1989]), a minha admiração com essa quantidade de leituras se tornou uma grande preocupação. Então, eu te pergunto: quantos livros você lê por ano? O que te motiva a ler essa quantidade de livros — lazer, estudo, trabalho? Qual o aprendizado que você tira dessas leituras? Quais as reflexões que elas te provocam? Você diria que as compreende profundamente?


Em seu livro, Paulo Freire, como o bom educador e estudioso que era — não à toa é tido como o Patrono da Educação Brasileira —, incentiva a leitura advertindo sobre o perigo de ler como um ato de consumo extrapolado, quando os livros são mecânica e compulsoriamente “devorados” e “memorizados”, em vez de lidos de forma crítica e aprofundada. Um exemplo dessa prática de leitura é quando a prioridade passa a ser a quantidade de livros lidos, e não a compreensão de seu conteúdo e a reflexão sobre este. De acordo com Freire, essa seria uma visão mágica, enganosa, da leitura, porque ler de forma mecânica, de modo que se seja capaz de descrever um livro, não é o mesmo que ter conhecimento sobre ele, não é o mesmo que compreendê-lo profundamente.

Uma vez que a leitura e a escrita têm um elo inseparável, essa visão mágica, por vezes, é incorporada ao ato de escrever. Assim, a quantidade torna-se mais importante que a qualidade da obra escrita. E, do mesmo modo que muites leitories correm o risco de ter uma visão mágica da leitura, muites escritories correm o risco de ter uma visão mágica da escrita. É a famosa crença de que “quanto maior o número de palavras ou de páginas, melhor”.

Essa crença, comumente, se funde ao ofício da escrita, em que escritories adquirem o hábito de escrever por “metas de palavras”. Não há problema em se utilizar de tais metas para escrever, o problema é quando elas passam a ser o centro da escrita, e não um facilitador desta. É muito fácil encontrar obras que extrapolam a narrativa para satisfazer parâmetros de quantidade. Nós escrevemos muito mais do que o necessário — ês contistas bem o sabem. A concisão não é algo ruim e, por vezes, é indispensável para a qualidade final da obra.

Assim, para Freire, no ato de leitura, a ênfase deve ser não na quantidade de livros lidos, mas na compreensão de seu conteúdo e a reflexão sobre este. O mesmo pensamento se aplica ao ato da escrita: a ênfase deve ser não em quantidade, mas em qualidade.

O que você, escritorie, pensa sobre isso?


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